quarta-feira, 24 de outubro de 2007


paz no mundo!!

Mas, nas circunstâncias actuais, pode-se falar de justiça e, ao mesmo tempo, de perdão como fontes e condições da paz? A minha resposta é que se pode e se deve falar, apesar da dificuldade que o assunto traz consigo, e da tendência que há a conceber a justiça e o perdão em termos alternativos. Mas o perdão opõe-se ao rancor e à vingança, não à justiça. Na realidade, a verdadeira paz é « obra da justiça » (Is 32, 17). Como afirmou o Concílio Vaticano II, a paz é « fruto da ordem que o divino Criador estabeleceu para a sociedade humana, e que deve ser realizada pelos homens, sempre anelantes por uma mais perfeita justiça » (Const. past. Gaudium et spes, 78).
Há mais de quinze séculos que na Igreja Católica ressoa o ensinamento de Agostinho de Hipona, segundo o qual a paz, a ser conseguida com a colaboração de todos, consiste na tranquillitas ordinis, na tranquilidade da ordem (cf. De civitate Dei, 19, 13).
Por isso, a verdadeira paz é fruto da justiça, virtude moral e garantia legal que vela sobre o pleno respeito de direitos e deveres e a equitativa distribuição de benefícios e encargos. Mas, como a justiça humana é sempre frágil e imperfeita, porque exposta como tal às limitações e aos egoísmos pessoais e de grupo, ela deve ser exercida e de certa maneira completada com o perdão que cura as feridas e restabelece em profundidade as relações humanas transtornadas. Isto vale tanto para as tensões entre os indivíduos, como para as que se verificam em âmbito mais alargado e mesmo as internacionais. O perdão não se opõe de modo algum à justiça, porque não consiste em diferir as legítimas exigências de reparação da ordem violada; mas visa sobretudo aquela plenitude de justiça que gera a tranquilidade da ordem, a qual é bem mais do que uma frágil e provisória cessação das hostilidades, porque consiste na cura em profundidade das feridas que sangram nos corações. Para tal cura, ambas, justiça e perdão, são essenciais.
Estas são as duas dimensões da paz que desejo analisar nesta mensagem. O seu Dia Mundial oferece este ano, a toda a humanidade e de modo particular aos Chefes das Nações, a oportunidade de reflectir sobre as exigências da justiça e sobre o apelo ao perdão diante dos graves problemas que continuam a afligir o mundo, dos quais, não por último, o novo nível de violência introduzido pelo terrorismo organizado.